segunda-feira, 5 de abril de 2010

Movimento Pelos Parques do DF


Grupo de Samambaia se uniu para recuperar área degradada do Parque Três Meninas
Voluntários plantaram mudas de plantas típicas da flora do Centro-Oeste para recuperação do cerrado


Thaís Paranhos - Especial para o Correio Braziliense


A natureza agradece a iniciativa de moradores de Samambaia e simpatizantes das causas ambientais. Vinte voluntários plantaram ontem cerca de 100 mudas de espécies nativas do cerrado no Parque Três Meninas. Eles criaram o Bosque do Cajuzinho e trabalharam durante toda a manhã na segunda etapa do projeto de recuperação de parte da área degradada do parque. A iniciativa é do Movimento de Resgate do Parque Três Meninas, criado há um ano para atuar com a comunidade em prol da revitalização e preservação do espaço. Também participaram membros do grupo Cerrado Vivo. Entre as espécies plantadas, havia mudas de jenipapo, cajuzinho-do-cerrado e alguns tipos de ipês. O local faz parte da Área de Relevante Interesse Ecológico Juscelino Kubitschek (Arie JK).

Localizado na QR 609/611, o Parque Três Meninas tem 72 hectares e pode proporcionar à comunidade atividades de lazer e convivência com a natureza, mas hoje sofre com a falta de manutenção. Em 2007, o GDF garantiu a liberação de R$ 467 mil para a construção de guaritas, banheiros, quadras poliesportivas e sinalização. Até hoje a revitalização não saiu do papel e o mato alto tomou conta do espaço. O parque é dividido em três partes: uma área de preservação ambiental, outra destinada a atividades culturais e educativas e uma terceira, voltada para o lazer da população.

Uma das coordenadoras do movimento, Iolanda Rocha, aponta como o principal problema enfrentado pelo parque o abandono da administração. “Nós entendemos que esse descaso é intencional, porque existe dinheiro para cuidar disso aqui”, revolta-se. Os quatro coordenadores do movimento criaram o grupo para devolver a área de lazer à comunidade, com trilhas, pistas de cooper e toda a estrutura necessária que um parque deve oferecer aos usuários, além de recuperar a área de cerrado que foi degradada e garantir a preservação da vida ecológica. O professor universitário aposentado Jacy Guimarães trabalha hoje com educação ambiental e preservação da fauna e da flora do cerrado. “A situação do planeta é tão séria e nós estamos perdendo muita biodiversidade. Então resolvi doar o resto da minha vida por essa causa”, diz o professor que dedica os dias para recuperar o bioma em algumas áreas do Distrito Federal e do estado de Goiás. Jacy acredita que a comunidade não sabe a importância que o cerrado tem e simplesmente o ignora. “A natureza é sábia. Quando eu planto uma muda, pergunto onde ela quer ficar”, conta o professor que se diverte ao dizer que as pessoas o chamam de doido por causa disso. Ele levou mudas de lobeira, ingá e jatobá-do-campo para serem plantadas ontem.

Preocupação
- A estudante Renata de Castro, 17 anos, moradora da Asa Norte, sempre se preocupou com as questões ambientais e conheceu o Movimento de Resgate do Parque Três Meninas ao participar de uma manifestação na Esplanada dos Ministérios do grupo Cerrado Vivo. “Me interesso muito por esse assunto e sempre dou uma força quando a iniciativa gera um bem maior”, diz. A também estudante Nayara Dias, 19 anos, moradora de Samambaia, conheceu os membros do movimento por meio de uma rede de relacionamentos na internet. “Samambaia é muito rica em termos ecológicos. Temos três parques na cidade e precisamos preservá-los”, invoca. Segundo a assessoria de imprensa da Administração Regional de Samambaia, o orçamento destinado à recuperação do Parque Três Meninas foi aprovado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, mas o dinheiro não foi liberado para o início das obras. Ainda de acordo com a assessoria, o órgão tem conhecimento do problema no espaço e apoia a comunidade, mas afirma que não tem autonomia financeira para atuar na revitalização do parque. Ninguém do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e da administração do parque foi encontrado pelo Correio para comentar o assunto.

Para saber mais


Antiga chácara
A Lei Distrital nº 576 de 1993 determinou a criação oficial do Parque Três Meninas. Na década de 1960, a área era ocupada por uma chácara que tinha o mesmo nome por causa de três casas de bonecas construídas pelo proprietário para as filhas. A área se tornou propriedade do governo na década de 1980 e, logo depois, passou a ser utilizada como escritório para a distribuição de lotes para a construção de Samambaia. Após a fundação da região administrativa, em 1989, a chácara chegou a abrigar a extinta Casa da Cultura, uma escola classe, um posto de saúde e um assentamento.

Algumas das espécies plantadas pelo grupo


Ipê-amarelo - Há várias espécies de ipê-amarelo plantadas pelas ruas do Distrito Federal, que pouco se diferenciam umas das outras. Elas podem ser vistas nos eixos rodoviários Norte e Sul, Eixo Monumental, Esplanada dos Ministérios, Setor Militar Urbano (SMU), Parque da Cidade entre outros. Algumas espécies se mostraram bem adaptadas a solos mais pobres. No DF, durante o período chuvoso, o ipê-amarelo perde todas as folhas, que reaparecem na época da seca.

Lobeira
- A espécie de nome científico Solanum lycocarpum leva esse nome porque o fruto serve de alimentação para os lobos-guará. A árvore tem tronco áspero e em tons de amarelo, e a copa fica verde durante todo o ano. Com aproximadamente 2cm de comprimento, as flores roxas aparecem antes do mês de março, quando os frutos começam a amadurecer. O alimento do lobos-guará tem uma polpa amarelada, muito usada para a fabricação de doces caseiros.

Cagaita
- A cagaiteira (Eugenia dysenterica) é uma árvore típica de cerrado e cerradões e pode ser encontrada em estados das regiões Centro-Oeste, Norte, Nordeste e Sudeste do país. As flores brancas da espécie têm atém 2cm de diâmetro e costumam aparecer em agosto e setembro, seguidas da frutificação. A cagaita costuma amadurecer nas primeiras chuvas. O fruto pode se consumido in natura e também é muito usado na fabricação de sorvetes, sucos e geleias.

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